Há quase dois anos me mudei para a Europa, estou morando na a Bélgica para ser mais exata. Isso implicou em várias mudanças na vida tradutória, algumas favoráveis outras menos. Para iniciar, pude participar de simpósios e congressos internacionais com muita facilidade e assim fiz novos contatos com profissionais de vários outros países.
Me vi obrigada a aprender uma nova língua pois não existe possibilidade de se morar em Flandres sem falar holandês, muita gente não fala francês ou inglês aqui. Admito que fiquei decepcionada com isso, afinal sempre ouvi falar da Bélgica como sendo um país bilíngue. Hoje sei que na verdade é um país dividido em 3, e por isso em cada região falam 3 línguas distintas (holandês, francês e alemão). Só como uma nota cultural, algumas pessoas falam as três línguas, porém o número de poliglotas é comparável ao de um país de uma língua só.
A aprendizagem de um novo idioma me abriu os olhos por alguns aspectos diferentes das línguas que eu já falava, como por exemplo, a diversidade da estrutura frasal. O holandês não possui declinações como o latim e o alemão, porém as frases se formam de forma muito distinta do português, inglês e espanhol. Essa diferença me fez refletir sobre a pontuação de forma diferente.
Aqui eles ensinam adultos a colocar vírgulas nas frases como pausas para respirar. Como assim? Bem, se uma frase não é construída com Sujeito + verbo+ objeto ela funciona de forma distinta. Uma frase que inicia com uma indicação de tempo terá o verbo no final da frase, fenômeno esse chamado inversão. De início essa explicação com relação à pontuação me deu a sensação de que algo estava errado, que os professores não possuíam conhecimento de sintaxe ou seilá. Mas agora que eu já consigo escrever frases complexas inicio a entender as tais pausas para respirar…
Mas do ponto de vista prático da tradução, viver no exterior atrapalhou meu já escasso contato com agências brasileiras. Ficando assim à mercê dos clientes diretos, que se mostraram em grande número maus pagadores. Isso não foi nenhuma surpresa, porém serve como conselho possuir algum tipo de seguro contra clientes diretos inadimplentes. Outro fator agravante da minha situação é que aos clientes brasileiros devo cobrar a palavra traduzida com os valores de Real, porém vivo pago contas em euros. E com os contatos europeus descobri que a maioria dos tradutores aqui cobram menos do que eu cobraria convertendo o valor por palavra de Reais para Euros. Alguns tradutores cobram menos de 0,5 centavos de Euro por palavra. Ainda não descobri como eles conseguem pagar os impostos de acordo com esse valor tão baixo, é provável que tenham muito mais volume tradutório e assim compensam o valor trabalhando muito mais.
Para finalizar, um quesito que mudou muito da minha vida tradutória no exterior é que no Brasil eu fazia mais versões (do português para o inglês) e hoje em dia eu faço mais traduções (do inglês para o português). Essa é uma mudança que me agrada, prefiro redigir na minha língua mãe e não devo ser a única!